domingo, 18 de março de 2012




Cem Anos de Solidão é uma leitura obrigatória para quem quer conhecer um pouco sobre o Realismo Mágico - corrente literária que tem no próprio García Marquez um dos seus expoentes. Aos leitores aficionados pela corrente Realista hão de estranhar a guinada no desenvolvimento da história e das personagens, por exemplo: a personagem Remédios, a bela, é descrita como a mulher mais linda que já existiu; até ai tudo bem, qualquer autor poderia escrever isso de maneira lírica, no entanto, o fato dela ascender aos céus envolta em lençóis e desaparecer da história é característica do Realismo Mágico. Outro acontecimento inusitado dá-se quando Álvaro vende tudo o que possui e compra uma passagem eterna num trem que nunca acabava de viajar; outra vez a realidade e a magia se misturam.

Interessante que Cem anos de Solidão e Amor nos Tempos do Cólera tem personagens com uma característica semelhante, por exemplo: no livro Amor nos Tempos do Cólera a personagem Florentino Ariza possui um vazio no coração e esse vazio desperta nas mulheres uma certa compaixão ou até mesmo dó. Essa é a sua justificativa diante da pergunta que lhe fazem acerca de seu sucesso com as mulheres; sucesso que o leva a ter anotado em um caderno o nome das mais de mil mulheres que ele se relacionou. A personagem Aureliano Buendía de Cem Anos de Solidão possui, por sua vez, uma solidão no olhar, no entanto, as comparações entre os dois personagens devem parar por aqui, pois enquanto Florentino Ariza mantêm esse vazio por causa de um amor não correspondido, Aureliano Buendía é incapaz de amar; teve inúmeras mulheres, dezessete filhos, participou de trinta e duas revoluções armadas, tudo isso não por causa de um idealismo ou paixão, e sim com uma grande indiferença.

A história de García Marquez é sobre a estirpe dos Buendía e se passa em Macondo, uma cidade (imaginária) no Caribe. O primeiro homem que ganha destaque é José Arcadio Buendía em sua busca pela pedra filosofal; depois seu filho homônimo e suas viagens pelo mundo afora; mas quem recebe um grande destaque é o Coronel Aureliano Buendía, filho de José Arcadio e irmão de José Arcadio. Aureliano Buendía é liberal e promove diversas revoluções contra os conservadores. No fim de sua vida ainda tenta uma última revolução, dessa vez não contra os conservadores, mas sim contra os yankees e a Companhia Bananeira, mas Gerineldo Márquez, seu grande amigo de revoluções, o faz lembrar que eles estão velhos demais para isso. A exploração trabalhista dos cidadãos de Macondo possui a indicação verídica de que o autor esteja se referindo a uma companhia que monopolizou o comércio das frutas nas ilhas caribenhas. Por causa dessa dominação, a personagem José Arcadio Segundo promove uma greve trabalhista.

Desde o começo do livro vários personagens tentam, sem sucesso, ler uns pergaminhos escritos em sânscrito pelo sábio Melquíades, amigo de José Arcadio Buendía (o primeiro). No final do livro Aureliano (não o coronel) decifra a escrita e constata que a história da família tinha sido escrita com cem anos de antecipação nos detalhes mais triviais.

O livro Cem Anos de Solidão deve ser lido diversas vezes, até por que é a história de várias gerações (sete) que confundem o leitor por causa da semelhança dos nomes, por exemplo: Pilar Ternera é uma jovem mulher que lê cartas e inicia o Aureliano Buendía (o coronel) na vida sexual, morre no final do livro com mais de cento e quarenta e cinco anos de idade, antes conhece o seu tataraneto Aureliano Buendía. Com o decorrer da história vários personagens morrem e, em dado momento, o leitor poderá sentir-se angustiado pela seqüência de mortes, visto que depois de identificar-se com uma série de personagens, todos estes começam a morrer, mostrando a fragilidade das pessoas e a inclemência da Morte que não poupa nem os solitários e desgraçados.

Interessante o personagem Gabriel, ele é mencionado na página 267 (o livro tem 286 páginas) e torna-se um grande amigo de Aureliano (o penúltimo de sua estirpe). Gabriel tem em sigilo uma namorada chamada Mercedes. Gabriel vai para Paris na página 277 e na 279 decide ficar por lá mesmo. Após a morte de Amaranta Úrsula, Aureliano vai atrás de Mercedes, que vive numa farmácia, para saber alguma notícia de Gabriel, mas a mulher que o recebe diz que ali nunca existiu uma farmácia e não conhecia nenhuma mulher com o nome de Mercedes. Tudo isso pode passar despercebido se não fosse Mercedes o nome da esposa de Gabriel García Marquez, alías no livro Amor nos Tempos do Cólera ele dedica o livro a Mercedes, é claro.

Macondo conhece o crescimento como uma cidade qualquer: tem seu bordel, sua política, sua religião etc., a decadência de Macondo dá-se naturalmente com a morte dos membros da família Buendía.

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