segunda-feira, 14 de maio de 2012

Consequência da Cultura

Na última década, a cidade paulista de Paulínia, 84 mil habitantes, na região metropolitana de Campinas, deixou de ser falada apenas pela produção petroquímica e se tornou conhecida como polo de produção de cinema. Foi como se num estalar de dedos a nossa vizinha Araucária passasse a ter entre os seus não só a turma da refinaria, mas também o Selton Mello, a Dira Paes e o Beto Brant.

O projeto despertou simpatia instantânea e irrestrita. Um exemplo de civilidade. Difícil algum diretor ou ator que não tenha feito reverências a Paulínia, vendo ali uma inspiração para outros municípios, em geral titubeantes na hora de investir em cultura. Falta-nos um índice sociocultural, capaz de provar na ponta do lápis que cada tostão gasto com arte, leitura, teatro volta em dobro. É um patrimônio que não vai com o vento, o que o coloca entre o mais sólido dos investimentos.

Pois a nova administração municipal não só navalhou o orçamento do Polo de Cinema de Paulínia como lamentou os R$ 490 milhões gastos no projeto até agora. Entende-o como “roubado” da educação e da saúde, sem dúvida nenhuma duas prioridades de qualquer administrador público. O senão da história, que mistura alhos com bugalhos, é supor que investir em cultura é supérfluo e, portanto, constituir um procedimento normal desviar seus recursos para outras áreas. Só faltou responsabilizar o polo de culpado do prato raso na mesa dos pobres. A reação da classe artística foi de indignação. Mas causa pena constatar que a discussão sobre o impacto do investimento em cultura ficou limitada ao pessoal do ramo. Barulho mesmo, só se fosse fechada a petroquímica. De qualquer maneira, a polêmica serve para mostrar o tratamento discriminatório dispensado ao setor, como se fosse possível separar cultura de educação.

Difícil aceitar que o capital criativo de tantos criadores artísticos de ponta, circulando pela praça de matriz da cidade e ministrando oficinas para a população, não tenha atingido a escola, a associação de bairro e o postinho de saúde. O resto vem por acréscimo, como se tem visto em todos os países que sobrevivem às crises econômicas pela força da formação cultural de seu povo. Leia-se Rússia e Argentina. Está se tornando a história da Índia. Pode ser um dia a história de Cuba.

O primeiro impulso pelo pouco caso com a cultura é culpar o populismo que grassa o país: arte não faz parte da cesta básica, ainda que devesse. O segundo, pôr nas costas das práticas corporativas, que privilegiam as metas, lesando a cultura, que sabidamente oferece resultados a médio e longo prazo. São meias-verdades. Há uma cortina de fumaça que impede ver qual o lugar da arte elaborada em meio ao grande negócio em que se transformou a indústria do entretenimento – a terceira do mundo, atrás da indústria bélica e da indústria automobilística. Apenas no Brasil, o setor movimentou US$ 33 bilhões em 2010.

O grosso dos rendimentos do setor é sentido nas práticas de lazer, mais ligadas ao escape para o estresse urbano e à necessidade de convivência social – o que é legítimo –, do que propriamente ao cultivo do espírito. Cultura elaborada é também lazer e sociabilidade, mas acima de tudo uma prática que pede introspecção, reflexão, crítica, debate. Em miúdos, a cultura deixou de fazer parte dos grandes problemas do mundo. E falar dela já causa estranheza.

Não causa espanto que o Polo de Paulínia esteja em via de óbito: ele não nasceu para promover o consumo imediato de blockbusters seguidos de pizzas e conversa fiada, mas surgiu com as melhores intenções: queria dialogar com a ideia moderna de cultura e tinha pretensões civilizatórias.

A cultura não “cola” na mentalidade tecnocrata. Tendemos a negligenciá-la. Mas, como todas as grande forças que movem a humanidade, ela não sossega. Não se instalou em Paulínia, mas em algum lugar há de ser e estar.

Fonte: Gazeta do Povo


domingo, 25 de março de 2012

Ponte do Rio dos Papagaios

HISTÓRICO

Construída em dois arcos de alvenaria de pedra, cruzando o Rio dos Papagaios, na então chamada estrada do Mato Grosso (atual BR - 277), que liga Paranaguá a Foz do Iguaçu, passando por Curitiba, Balsa Nova e Palmeira. É considerada um monumento de engenharia nacional. Já centenária, a ponte, é também chamada de Ponte de Dom Pedro, por remontar ao tempo do Império e haver sido sua construção autorizada por D. Pedro II. Custou à época cerca de 44 contos de réis e todas as pedras utilizadas na obra foram extraídas das pedreiras de grés dos Campos Gerais, de rochas homogêneas e resistentes, sem o emprego da pólvora - condição, alliás, estipulada no contrato de construção.

Os blocos foram talhadas conforme os desenhos ou projetos. Nenhuma pedra foi empregada sem ter sido antes examinada pelo engenheiro responsável, ou por ajudantes seu. Na alvenaria de argamassa e na alvenaria seca só se admitiam pedras em forma de paralelepípedo que não exigissem calços cuja grossura excedesse 15 milímetros.

Entre os vãos dos dois existia um medalhão em mármore roxo da colônia Alfredo Chaves, hoje Colombo, com os seguintes dizeres: “A Província do Paraná presta homenagem a um de seus mais ilustres admiradores, o pranteado Lamenha Lins, que mandou executar esta obra, e ao Engenheiro que a delineou, Capitão Francisco Monteiro Tourinho, ambos já falecidos. Em jus à gratidão e à saudade de seus cidadãos”.

Fonte: SEEC

domingo, 18 de março de 2012

Capela da Nossa Senhora da Conceição





HISTÓRICO

É uma construção singela com cobertura em duas águas, telhas capa-e- canal, arrematada por beiral encachorrado. É constituída em dois corpos: nave e sacristia lateral.
Na fachada, encimada por tosca cruz de ferro, portada central emoldurada por requadros em cantaria, verga reta. Todas as demais aberturas - o acesso à sacristia e a janela lateral - possuem também requadros em cantaria de verga reta.

Em 1820, já bastante arruinada, a capela de Tamanduá passou por obras de conservação e restauração, o mesmo ocorrendo em 1906. Novamente restaurada em 1978 pela Curadoria do Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria da Cultura e Esporte do Estado do Paraná.
Em meados do século XVIII, de acordo com o historiador David Carneiro, “quatro locais, nos Campos Gerais, depois de Curitiba, se eqüivaliam em importância: Lapa, São José dos Pinhais, Castro e Tamanduá”, da qual derivou o atual município de Palmeira. Naquela época, Tamanduá” era povoado em formação.

Na primeira metade do século XVIII já se constituíra em freguesia, possuía sua capela e eram inúmeras as famílias abastadas que lá moravam. Os carmelitas haviam construído um convento, a povoação contava com uma força de milícia e de dez em quando “assistia à partida de um grupo de aventureiros armados com o objetivo de conquistar e reconhecer o oeste misterioso”.

Tamanduá foi desmembrada de Curitiba e elevada à condição de freguesia em 20 de março de l8l3, por alvará do príncipe regente, e em 9 de maio daquele mesmo ano foram fixados os limites entre as duas paróquias. Em 1820, como os bens de freguesia já haviam sido entregues aos carmelitas (18l8), foi concedida licença para a transferência da sede paroquial para Palmeira. Segundo documentação existente, em fins do século XVII (1697) D. Rodrigo de Castel Blanco chegou aos Campos Gerais de Curitiba à procura de outro, e acampando nas proximidades do atual Campo Largo, mandou convocar todos os habitantes influentes das redondezas. Um dos mais poderosos que se apresentou foi Antônio Luiz Lamin, conhecido por Antônio Tigre, senhor de grandes extensões de terra que iam do segundo planalto, onde Tamanduá se situa, até Curitiba. Os relevantes serviços por ele prestados a D. Rodrigo e sua influência entre os habitantes locais valeram-lhe os cargos de juiz, vereador, procurador do Conselho dos Homens Bons e capitão de ordenanças em Curitiba, de 1700 a 17l8.

A primeira capela de Tamanduá foi construída em madeira pelos padres carmelitas por volta de 1709, conforme vontade expressa pelo já então capitão Antônio Tigre, que não só doara meia légua de suas terras para aquele fim, como também mandara buscar em Portugal a imagem de Nossa Senhora da Conceição. Um neto de D. Antônia Góes, esposa de Matheus Leme - o capitão João de Carvalho Pinto -, legou a Antônio Tigre a imagem que pertencera à sua avó e por ela fora deixada em testamento a seu filho Matheus Leme, o moço, para que erguesse uma capela a entronizasse. Antônio Tigre, em 1727, já bem avançado em anos, mandou erigir a atual capela, em alvenaria de pedra argamassada, cujas obras terminaram em 1730, ocasião em que foi feito o translado da imagem, que se encontrava em Curitiba. Pouco antes de sua morte. Antônio Tigre, em testamento feito, legou à capela por ele construída” grandes datas de terra, muito gado e outros bens”. Em 1837, em 8 de dezembro, dia em que se celebrou o término das obras da igreja, em Palmeira, a imagem foi para lá transladada.

Fonte: Coordenadoria do Patrimônio Cultural - SEEC.